Tendo escolhido Albufeira para viver, o pintor Álvaro Motta e Sousa afirmou-se como um pintor contemporâneo da linha naturalista da primeira metade do século XX, com predominância para a paisagem, o retrato e a natureza-morta. Cúmplice da estética do figueirense Mário Augusto, Álvaro Motta e Sousa evidencia-se pela subtileza das radiações de luz sobre as coisas que já não o podem ser. Esta marca ganha força nos motivos escolhidos, nomeadamente factos históricos. Responsável por dar forma ao que até então era mero conhecimento informativo, dota a história de Albufeira de rostos, ambientes e acontecimentos através da sua pintura. Na sua dinâmica de cores, imprime-se o movimento da história numa dialéctica com o presente, perpassando na linha figurativa o carácter dramático da mudança do tempo. A este olhar tão peculiar sobre a história de Albufeira não está alheio o facto de Motta e Sousa ter sido amigo próximo de Fernando Santos, o célebre Tóssan, pintor de Vila Real de Santo António, coreógrafo do Teatro Lethes, presença habitual no programa Zip-Zip, companheiro de letras de Mário Viegas, assim como de Leonel Neves, companheiro dos tempo da Universidade de Coimbra, e ilustrador das mais célebres embalagens da indústria conserveira do Algarve.
É neste clima de apreço pelo valor da terra e seus actores, princípio que norteava o círculo de Alfredo Keil, que Motta e Sousa desenvolve uma parte considerável da sua obra e, neste caso, com o olhar em Albufeira. Sensibilizava-o especialmente o mar e sua dinâmica, num claro comprometimento com a sua terra berço: Setúbal, onde nasceu a 6 de Abril de 1920. Doações, partidas marítimas, momentos trágicos ou gloriosos, classes sociais, de todo este imaginário se enriqueceu Albufeira, podendo por isso agora exibir uma seriação de quadros da História deste Concelho (algumas obras são pertença do Município, outras foram gentilmente cedidas por Henrique Ferreira) numa exposição que pode ser vista até 6 de Fevereiro na Galeria Municipal. Motta e Sousa faleceu em Albufeira a 22 de Fevereiro de 2010, depois de ter aqui fixado raízes em 1974. Já no ano de 1969 tinha feito do Largo Eng. Duarte Pacheco o seu espaço de exposição ao ar livre, tal como defendiam os discípulos de Mário Augusto, os chamados “ar-livristas”. Mas o seu percurso não fica por aqui e o mesmo se evidencia na obra. As cores quentes não negam a sua passagem pelo norte de África, onde viveu cerca de dois anos repartidos por Fez, Tânger, Larache e Casablanca. Regressando a Portugal, colaborou na Campanha do Ministério da Economia “Produzir e Poupar” ao lado de Stuart Carvalhais e Abílio de Matos Chaves. Voltando a sair de Portugal, fixa-se durante algum tempo em Madrid, estabelecendo contacto com os pintores Juan Morales e Martin Maqueda de quem, mais tarde, no nosso país, se torna amigo, frequentando então o Círculo Mário Augusto, fundado por Keill.
Rumando a Paris, expõe na rua e estabelece contacto com a Galeria Gauvin, para a qual começa a pintar em regime de exclusividade. Através dessa Galeria conhece um “marchant” holandês que lhe encomenda cópias de clássicos italianos existentes no Museu de Florença (Itália). De novo em terras lusas, pintou para as Galerias Molder, Henry Goyarte e Afras e fundou a Galeria Troiarte, em Setúbal.
Em Agosto de 2004 foi distinguido pela Câmara Municipal de Albufeira com a Medalha de Mérito Municipal, grau Ouro, como reconhecimento pelo contributo para o engrandecimento do nome da cidade de Albufeira. As suas obras, adquiridas por nacionais e estrangeiros, estão espalhadas por toda a Europa e América. Encontra-se identificado no Livro de Pintores de Michael Tannock.