A iniciativa, dirigida à população em geral e a entidades públicas e privadas que têm por missão intervir a nível da prevenção ou gestão de incêndios florestais, agentes de Proteção Civil, estudantes, proprietários e gestores florestais, teve por objetivo sensibilizar para a problemática do risco de incêndio nas zonas de interface urbano-florestal.
Tratou-se de uma organização da responsabilidade do Serviço de Proteção Civil do Município de Albufeira que, do ponto de vista genérico, pretendeu aumentar a resiliência do território aos incêndios florestais, analisando vulnerabilidades, tendo em conta fatores de perceção social, comportamento humano, características das habitações e a própria organização do espaço.
O presidente da Câmara Municipal de Albufeira, que presidiu à abertura dos trabalhos, sublinhou a oportunidade do tema, considerando que “estamos em pré-época de incêndios”, tendo aproveitado para saudar a corporação dos Bombeiros Voluntários de Albufeira, pelo trabalho que desenvolve diariamente no terreno a zelar e a combater este flagelo. Carlos Silva e Sousa referiu que “apesar de Albufeira não ter propriamente floresta, tem uma grande zona rural e urbana”, que se enquadra, naturalmente, nas chamadas “áreas de interface”, onde os incêndios ocorrem com mais intensidade e onde os danos são mais significativos. “Daí a importância da Prevenção, que se coloca, quer pela forma como a natureza se encontra cuidada (temos grandes problemas com o abandono da floresta e das zonas rurais o que representa um enorme fator de risco) quer ao nível do comportamento humano”. Por isso é tão importante falar e refletir sobre estes temas, disse “para que quando as coisas acontecem – e infelizmente estão sempre a acontecer – quer os cidadãos quer os profissionais da área saibam reagir às situações sem entrar em pânico, com uma boa articulação de meios e uma intervenção o mais rápida possível. É muito tranquilizante sabermos que Albufeira e o Algarve têm Bombeiros muito profissionais e solidários, temos concelhos vizinhos que têm enfrentado situações dramáticas com um empobrecimento muito grande, não só ao nível da devastação causada na natureza mas, também, pela perda de bens e recursos das pessoas e da própria economia da região”.
A vereadora Ana Vidigal, responsável pelo pelouro da Proteção Civil, referiu que “34% do território concelhio encontra-se em zona florestal com a ocorrência de incêndios na proximidade urbana a potenciar a necessidade de afetar recursos humanos a esta área”. A autarca destacou algumas ações que se encontram em curso com vista a evitar este tipo de calamidades, entre as quais a limpeza das linhas de água, a notificação de proprietários para limpeza de terrenos da sua responsabilidade, a verificação completa da rede de hidrantes do concelho, ações de sensibilização e criação de núcleos de voluntariado a nível da proteção civil, tendo a propósito deste último ponto lançado um repto aos jovens presentes no seminário para que “sejam veículos de sensibilização e de defesa de bens, pessoas, património e ambiente”.
A sessão de abertura contou ainda com as intervenções de Valentina Calixto, Diretora do Departamento de Conservação da Natureza e Florestas do Algarve, António Gonçalves, Comandante Operacional do SMPC, António Zua Coelho, Comandante dos Bombeiros Voluntários de Albufeira, Coronel Carlos Silva Gomes, Comandante Territorial da GNR de Faro, Vítor Vaz Pinto, da Autoridade Nacional da Proteção Civil – CDOS de Faro (Comandante Operacional de Agrupamento do Algarve, em regime de acumulação com as funções de Comandante Operacional Distrital) e de Paulo Freitas, presidente da Assembleia Municipal de Albufeira.
As comunicações ao longo do dia ficaram a cargo de diversos especialistas na matéria, que abordaram o tema sob diferentes perspetivas. Luciano Lourenço que apresentou os painéis: “Mudanças Climáticas e o Risco de Incêndio Florestal” e “Risco de Incêndio Florestal: Caracterização e Prevenção”, recordou que as mudanças climáticas não são um fenómeno recente, no entanto, os eventos climáticos extremos tendem a aumentar a exposição das cidades às ameaças e riscos, disse. O especialista sublinhou que “a prevenção dos incêndios florestais passa por um conjunto diversificado de medidas tendentes a reduzir o risco de incêndio, que por ser de natureza essencialmente antrópica, deveriam implicar uma aposta concertada e contínua com vista à alteração de comportamentos, ao invés de uma atuação esporádica”.
Luciana Bento, que abordou a visão jornalística dos incêndios florestais, frisou que o tema assume “grande relevância mediática”, não apenas pela devastação ambiental e perda de bens que suscita, mas sobretudo pelos danos pessoais e, no limite, a perda de vidas humanas.
João Lutas Craveiro apresentou vários estudos, bem como algumas considerações gerais sobre a legislação vigente em Portugal. Na sua intervenção referiu que a consideração de risco de incêndio na interface urbano-florestal implica uma análise sobre os comportamentos de uso e ocupação do território e, particularmente, sobre a perceção do risco. “A resiliência e a redução de riscos de desastres devem fazer parte do desenho urbano e das estratégias para alcançar o desenvolvimento sustentável. Para isso são necessárias alianças fortes e uma ampla participação popular”, concluiu.
A última comunicação do dia foi da responsabilidade de Conceição Colaço, que apresentou dois estudos de casos, um deles referente ao incêndio de 2003 em Marmelete, no concelho de Monchique. O objetivo passou por tentar perceber como estão preparadas as comunidades locais para atuar e enfrentar estes novos desafios, nomeadamente os riscos de incêndio florestal na interface Rural-Urbano. Destacou, ainda, a criação de nova legislação a nível nacional e a importância, a nível municipal, dos Planos Estratégicos e Operacionais, que contribuem para promover a resiliência da floresta e da sociedade aos incêndios.